sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Shânkara preciosa



De tanto olhar para nada,
ficaste com olhos de fada.

Arthur Tress, 1987

pra saciar nossa sede,
o Algo deixa o copo d'água
ali em cima da mesa

temos o livre-arbítrio de bebê-lo
ou não

se não o bebemos, a culpa não é do Algo,
mas de nossa escolha


se o bebemos, e se tivermos amor no coração,
agradecemos ao Algo a delicadeza
do copo d'água ali em cima da mesa


e se não agradecemos, o Algo não se importa,
o Algo fica feliz de saciarmos a nossa sede


porque o amor nunca pede nada em troca,
porque o amor não é mesquinho,
mas inesgotável oceano



Fernando José Karl

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

W. Eugene Smith, 1946

Não é que cada visão precisa se transformar numa concha que o Algo irá fundir em puro amor dentro de nós: não se trata disso: o que acontece é que o Algo é tão precioso e profundo que até um objeto tão pequeno quanto uma concha pode servir ao Algo para transformar uma simples concha em amor dentro de nós.

O Algo também faz isso com as palavras, que são tão pequenas, e, mesmo sendo assim pequenas que nem uma concha, por exemplo, as palavras podem dizer céu e mar: duas palavras, mínimas, mas que se referem a um significado pra lá de imenso.

O Algo (que está em todo lugar e em lugar nenhum) é o Ser perfeito que ninguém faz, e o Algo só sabe ver poeticamente o mundo: o Algo só sabe ver que, quando despertamos para o fato de que tudo é beleza, também despertamos para o amor puro dentro nós.

O Algo é aquele Ser que se faz sozinho e que, ao encontrar uma barata, a transforma em estrela: é aquele Ser que ninguém faz e que, ao encontrar um assassino, o transforma em água pura da fonte: o Algo vê beleza em tudo, porque ele é a grande potência transformadora.

Fernando José Karl

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Stanko Abadzic, 1998

A palavra vendaval pra nada serve se não puder ser uma oração nas folhagens