sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Um grafismo de Fernando José Karl



Escutar Prelude Cello Suite No. 1

http://br.youtube.com/watch?v=LU_QR_FTt3E&feature=related

Intérprete: Rostropovich.


Shânkara preciosa



De tanto olhar para nada,
ficaste com olhos de fada.

Arthur Tress, 1987

pra saciar nossa sede,
o Algo deixa o copo d'água
ali em cima da mesa

temos o livre-arbítrio de bebê-lo
ou não

se não o bebemos, a culpa não é do Algo,
mas de nossa escolha


se o bebemos, e se tivermos amor no coração,
agradecemos ao Algo a delicadeza
do copo d'água ali em cima da mesa


e se não agradecemos, o Algo não se importa,
o Algo fica feliz de saciarmos a nossa sede


porque o amor nunca pede nada em troca,
porque o amor não é mesquinho,
mas inesgotável oceano



Fernando José Karl

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

W. Eugene Smith, 1946

Não é que cada visão precisa se transformar numa concha que o Algo irá fundir em puro amor dentro de nós: não se trata disso: o que acontece é que o Algo é tão precioso e profundo que até um objeto tão pequeno quanto uma concha pode servir ao Algo para transformar uma simples concha em amor dentro de nós.

O Algo também faz isso com as palavras, que são tão pequenas, e, mesmo sendo assim pequenas que nem uma concha, por exemplo, as palavras podem dizer céu e mar: duas palavras, mínimas, mas que se referem a um significado pra lá de imenso.

O Algo (que está em todo lugar e em lugar nenhum) é o Ser perfeito que ninguém faz, e o Algo só sabe ver poeticamente o mundo: o Algo só sabe ver que, quando despertamos para o fato de que tudo é beleza, também despertamos para o amor puro dentro nós.

O Algo é aquele Ser que se faz sozinho e que, ao encontrar uma barata, a transforma em estrela: é aquele Ser que ninguém faz e que, ao encontrar um assassino, o transforma em água pura da fonte: o Algo vê beleza em tudo, porque ele é a grande potência transformadora.

Fernando José Karl

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Stanko Abadzic, 1998

A palavra vendaval pra nada serve se não puder ser uma oração nas folhagens

Laszlo Layton, sem data

A concha você pode encontrá-la quando fechares os olhos: ela pode ser vista apenas pela glândula pineal: ou olho védico ou terceiro olho: a glândula pineal tem 8 mm: ela é quem oferece a concha para o Ser indestrutível: o Algo (Atman): e o Algo (também conhecido como o Deus), que é sutil e profundo, transforma esta concha num imenso amor dentro de ti.

O Algo também faz isto com todas as coisas lindas, muito mais que findas, que forem vistas pela glândula pineal: uma árvore, um mar verde colossal, um céu, um perfume, um diamante.

Por isto é muito importante vermos poeticamente o mundo vasto mundo.

Fernando José Karl

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Shânkara Lis: uma das obras-primas do Algo



Depende de como você vê o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só.
O Algo

Li em algum lugar que o Tao (o Algo, o Deus) é aquilo que se ouve e não tem som: voz do silêncio: sopro: com esta voz "quase" inaudível o Tao criou, no vazio em que se refaz infatigável: a pedra e a chuva, o carvalho e o mar: e todas as outras coisas.

Inciput erat verbum: no princípio era a palavra: uma das formas de honrarmos o pequeno sopro das palavras: pedra, chuva, carvalho, mar: é deixar que elas desvelem, e não nós, o que há de mais íntimo nelas.

Há pouca matéria numa palavra que nem mar, por exemplo, um pequeno sopro. Há pouca matéria em todas as palavras, por isso elas são, algumas vezes, desprezadas. Mas elas sempre esposam o infinito.

A palavra céu, para os hindus, é um ser vivo e não apenas uma palavra criada para a usura ou fins pessoais.

Assim as palavras: ancoradouro, turmalina, adágio, veneziana: são seres vivos que jorram da terceira margem do rio e, como seres vivos, devem ser honrados.

A palavra vendaval pra nada serve se não puder ser uma oração nas folhagens.

Aquilo que olhamos atentamente, olha atentamente para nós.
gerard manley hopkins

Se olho a palavra chuva atentamente, ela olha atentamente para mim, com suas curvas líquidas, com seus mistérios divinos, porque só a palavra chuva é quem sabe de si.

Se a palavra é sopro e sopro é vida.
shakespeare


Não que o Tao necessite de palavras, mas também o Tao aprecia comunicar-se através de palavras.

Escutar o que sopra do Tao: isto é honrá-lo.

O poeta é aquele que nunca sabe o que vai pronunciar uma palavra criada pelo Tao, feito uma criança que nunca sabe para onde vai a onda do mar ou as nuvens do céu: ele aguarda que o Tao (o Algo, o Deus) sopre: isto é honrar o jazz da vida, ou reverenciar a respiração do indestrutível.

Fernando José Karl